Relatório recente sobre desastre de Hillsborough intensifica sensação de injustiça nos parentes das vítimas

Relatório recente sobre desastre de Hillsborough intensifica sensação de injustiça nos parentes das vítimas

Os parentes das vítimas do desastre no estádio de Hillsborough, que causou 97 mortes num jogo na cidade de Sheffield em Inglaterra em 1989, manifestaram esta terça-feira (2) o seu descontentamento depois da divulgação de um relatório que destaca falhas policiais.

Os 97 adeptos do Liverpool perderam a vida ao serem esmagados numa bancada demasiado cheia no dia 15 de abril de 1989, na semifinal da Taça de Inglaterra frente ao Nottingham Forest, o pior incidente no desporto britânico.

Depois de 36 anos, o Gabinete Independente de Conduta Policial (IOPC, na sigla em inglês), responsável pela supervisão da polícia, divulgou esta terça-feira um relatório que encerra uma investigação lançada em 2012.

O documento admite falhas cometidas "tanto na preparação do jogo e na preservação da ordem, como na reação ao desastre".

Inquirições prévias já tinham exposto erros, mas o relatório do IOPC determina que 12 antigos agentes policiais deviam ter sido sujeitos a processos judiciais por negligências graves, devido a "falhas elementares" no decorrer do jogo e esforços "coordenados" para fugirem à culpa atribuída aos adeptos.

Reformados ou já falecidos, estes agentes não serão processados. Vários polícias inquiridos antes no caso foram absolvidos.

"Ninguém vai prestar contas", lamentou a advogada principal dos parentes das vítimas, Nicola Brook, numa conferência de imprensa.

Para Margaret Aspinall, que perdeu o filho de 18 anos no desastre, é "uma desonra nacional" que vários dos polícias mencionados tenham saído "sem punição, livres e com pensão completa".

"Nunca vamos ter justiça e estamos cientes disso", reagiu Charlotte Hennessy, cujo pai morreu. O relatório "confirma tudo o que os sobreviventes e os parentes sempre afirmaram", acrescentou.

O desastre ocorreu quando os adeptos do Liverpool se concentraram nas porteiras antes do jogo começar. A polícia abriu um portão de saída para alargar o espaço de circulação, mas os adeptos dirigiram-se a uma bancada já excessivamente lotada.

A multidão descontrolada levou inicialmente à morte de 94 pessoas comprimidas contra as barreiras de proteção à volta do relvado, e mais duas nos dias seguintes. Em 2021 foi confirmada uma 97ª vítima, que faleceu 32 anos depois devido a complicações das lesões.

A polícia admitiu em 2023 que planeou de modo "desastroso" o dispositivo de segurança para o jogo.

Esta terça-feira, a secretária do Interior do Reino Unido, Shabana Mahmood, afirmou que Hillsborough foi "um dos maiores falhanços policiais da nação".