Apesar dos obstáculos, Toronto estará 'pronta' para o Mundial de 2026

Apesar dos obstáculos, Toronto estará 'pronta' para o Mundial de 2026

O Mundial de 2026 representa a primeira vez que o torneio ocorre em três nações, mas enquanto os Estados Unidos e o México já o acolheram antes, o Canadá surge como estreante na organização.

Em Toronto, uma das duas cidades canadenses selecionadas ao lado de Vancouver para receber partidas, os preparativos têm lidado com desafios, incluindo divergências com a FIFA sobre despesas indispensáveis e dúvidas quanto ao financiamento.

Ainda assim, Sharon Bollenbach, diretora executiva do Mundial de 2026 em Toronto, afirmou à AFP que tais dificuldades eram esperadas e assegurou que a cidade vai estar preparada para o arranque do certame, que se aproxima em pouco mais de seis meses.

"Optar por acolher um Mundial é uma escolha audaciosa", observou Bollenbach.

"Penso de facto que metrópoles como Toronto por vezes precisam de optar por medidas corajosas e decisivas, ainda que nem sempre contentem toda a gente".

"Exagerado"

A maior parte dos jogos decorrerá nos Estados Unidos, que organizaram o torneio sozinhos em 1994.

O México, que foi anfitrião em 1970 e 1986, vai receber 13 partidas, tal como o Canadá.

Bollenbach sublinhou que nenhum dos países envolvidos, nem a FIFA, possui vivência com um campeonato de 48 seleções e 104 encontros, o que concedeu alguma margem de manobra nas discussões para a realização.

Houve momentos em que Toronto indicou à FIFA: "Isso parece excessivo, não dá para assumirmos financeiramente", referiu Bollenbach, considerando que esse intercâmbio foi bastante positivo.

Um caso concreto envolveu as infraestruturas de treino. A FIFA pretendia que Toronto erigisse três campos novos, mas acabou por aceitar uma solução mais simples, conforme explicou Bollenbach.

"Queríamos assegurar que, caso investíssemos em campos de treino, eles fossem de facto aproveitados", complementou.

"Passámos de exigir vários espaços novos para os treinos e ficámos por um único".

Trump complica estimativas de visitantes

Toronto só conhecerá as equipas que receberá após o sorteio dos grupos do Mundial, marcado para 5 de dezembro em Washington.

O primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, anunciou esta semana a sua presença, assim como a do presidente norte-americano, Donald Trump.

Bollenbach indicou que as previsões iniciais apontavam para cerca de 300 mil visitantes em Toronto durante o evento, valor que será revisto consoante o sorteio.

A cidade pode precisar de se preparar para mais gente, uma vez que alguns adeptos talvez prefiram viajar para o Canadá em vez dos Estados Unidos por sentirem maior segurança.

Em maio, Trump garantiu que todos os visitantes seriam bem recebidos no Mundial, mas há indícios de que as suas políticas, com restrições apertadas à imigração, afetaram o turismo.

A consultora Tourism Economics estimou em agosto uma queda de 8,2% nas chegadas internacionais aos Estados Unidos em 2025, atribuindo o declínio a uma imagem desfavorável do país junto dos turistas globais.

"Creio que é essa a sensação das pessoas, independentemente do Mundial", comentou Bollenbach, acrescentando que seria sensato para Toronto preparar-se para acolher quem evita Trump.

Dúvidas no orçamento

As partidas de Toronto realizar-se-ão no BMO Field, remodelado e casa do Toronto FC, clube local da MLS.

A ausência de grandes investimentos em infraestruturas ajudou a controlar as despesas, segundo Bollenbach, com um orçamento atual de perto de 380 milhões de dólares canadianos (R$ 1,4 bilhão à taxa atual).

Todavia, Toronto assinou o contrato de organização sem ter garantias de fundos da província de Ontário.

O campeonato arranca em junho, mas o acordo financeiro permanece em aberto e as negociações entre a cidade e a província geram polémica constante na política canadiana.

"As discussões prosseguem", afirmou Bollenbach. "Teve havido algumas oscilações nos corredores do poder".

As despesas previstas em Vancouver são mais elevadas, em parte devido às obras no BC Place, e o setor privado da cidade ocidental manifestou inquietações com a escassez de capacidade hoteleira, de acordo com a comunicação social local.